domingo, 31 de outubro de 2010

Eus de Protótipos Crônicos


Ninguém ainda me esclareceu o que está acontecendo. Continuo esperando.
Quando sou eu, parece haver um outro eu que finge ser quem sou. A policia de Dubai informou hoje.
Quando abro os olhos, faço todas as associações. a carga aérea que vinha do Iemen continha um explosivo. É como se fizesse alguma ligação com a verdade que já existia.
Com marcas da rede, em algum canto da minha escuridão. Terrorista Al Qaeda.
Não sei dizer quem sou eu que diz isso agora.
Senti como se fosse real...
O dispositivo estava camuflado em um cartucho de tinta.
Havia um fluido em cada movimento, quando pensava no tempo, dentro da impressora, corrompia-o.
Em todos os olhos. O presidente. A humanidade carrega nos olhos o que mais lhes dá medo. O próprio olhar.
O tempo cria nossos pensamentos, como ainda existo?
Quem realmente existe? Anuncia uma ameaça real. Qual eu vai permanecer quando dissipar o tempo?
Areia eterna tenta mover os passos e todos os caminhos retornam a areia.
Caibo num segundo toda a existência reprimida por séculos, séculos, séculos. Real.
De ataque. Nos símbolos que busco não encontro algum que me esclareça o que está acontecendo agora. Acontecendo agora. Agora. Terrorista.
Os olhos abertos seduzem sua própria composição das imagens, ao país. As imagens seduzem o eu aprisionado naquela escuridão inevitável.
Quem sou eu? Súplica eterna presente em todas as orações. Ao país. Insuportável pergunta que vem gritar pelo espaço feito eco constante, e o que faz é ensurdecer. Resta o silencio repousado sobre a areia. Repousando. Surge do silencio, silêncios repletos do vazio imensurável. Silêncios...

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Comida


Estarei faminta por alguns séculos
E quando sentir fome
Iniciarei comer minha alma
Com gosto de excessos
Um bocado adocicada
Saciar-me-ei de abstratos
De sonhos feito sobremesa
Adoçando meus lábios e sentidos
Também o sentido do paladar amargo
Dos rancores mal digeridos
do azedume da falta de fé
E do tempero forte de amores quentes
Hei de evacuar pelos orifícios
Toda matéria sem vida
Estarei nutrida
Saciada da existência comida

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Corpo Santo


O corpo estava envolto em uma camada espessa de poeira e sangue.
As chagas expostas ardendo e jorrando já sem muita pressa o resto de sangue.
Morte. O sentido da palavra veio sem a geração mental. Sem palavras que definissem, o conceito de morte concebeu-se em um lampejo eterno, não só através da mente, mas percorreu-lhe todo o corpo. Sentiu o cheiro da carne queimada, do sangue batido e o gosto da terra.
Num esforço ainda, carregou para dentro o ar que lhe cortava os pulmões, sentiu o oxigênio formigar-lhe todo o corpo, e esvair-se pelas veias e poros. Soube naquele momento que, equivocadamente e em vão, durante toda vida buscou se encontrar para começar a ser alguém. Alguém ou uma imagem?
Sete chagas perfuradas e corroídas pela ferrugem dos pregos. As chagas já existiam antes mesmo de que existisse nelas. As mazelas todas o esperavam antes mesmo de conceber o sofrimento.
Num suspiro ultimo que lhe arrancou todos os sentidos, expiou por todos os corpos restantes e pelo seu próprio, que num fragmento de eternidade rompeu da Terra a breve sentido da existência.