quarta-feira, 22 de julho de 2009

Tamborzinho

Tentou, espremeu, sentiu...
Todavia, um sentido torto
Preso na expectativa do que seria.

Soltou dos dedos os sonhos.
Caindo como areia de ampulheta
No chão de verdade que era oco.

Apalpou ainda umas ações
E não se moveu no objeto quadrado.
Pedaço abstrato de posse definida

Caiu dum peso de nuvens
Como areia entrou no chão
Disforme resto, todo desprovido

Deixou a cabeça suspensa
Num barbante linha reta
De resto desintegrado, era tentativa.

quarta-feira, 15 de julho de 2009

Disritmia Bomba Cardíaca

Mesmo sabendo que paixões agudas é destino insiste flerta com Amor.
Ignora dor latente troca por instantes parcos de exultação infinita.
O gosto ferrugem continua na língua seca não sai: corpo negligência.
Cabia umas horas espera sanado tempo esvoaçado sonhos espalhados.
Disparate do coração tal Paixão inexplica corrupção - tosca pureza.
Tilintando silencio pequeno, começa dentro sai devagar explode
Nos cantos em pedaços, sangue de abstrato quebrado sólido invisível
De Amor migalha mazela vivida dum resto irreversível insiste ainda.

quarta-feira, 8 de julho de 2009

CAPÍTULO VII - UMA XÍCARA DE CHÁ


Foi andando pela areia branca, apanhando as conchas que encontrava no caminho, como se nunca. Tão semelhantes, as conchinhas miúdas e de mesma cor. Onde estariam as conchas coloridas e exóticas das fotos de cartões postais? Espremeu os olhos na tentativa de enxergar o fim daquele extenso tapete verde-água. Estavam mais adiante as conchas belas e exóticas, inalcançáveis. Como os nobres sentimentos, lá no fundo, tão fundo... Tentar buscá-los seria pedir o afogamento da alma. Tão fundo...
Sentiu uma dor suave, acompanhada de uma umidade morna vinda da palma da mão direita. Demorou-se ainda um pouco contemplando o grande tapete antes de desviar os olhos. Sem pressa, seus gestos pareciam vindos de um sonho surreal, cada movimento entorpecido pelo odor da maresia. Na palma da mão a conchinha cor de salmão trincada ao meio, um fiozinho vermelho sangue contrastando com a alvura da mão fria. A borda rósea da concha tingida sutilmente pelo sangue que agora gotejava sem pressa, indo pingar e se afundar na areia branca sob seus pés. Sem que desse conta, todos os cheiros e cores se fundiram numa coisa só. Não havia mais contraste que definisse as diferenças.
Sentia o corpo pesado todo indo ao encontro da areia úmida pela ultima onda. Todos os membros se integrando a cada grão da areia, cada pedaço do corpo, cada fio de cabelo, uma única coisa. A imagem azulada da água foi substituída pela limpidez do céu sem nuvens. Permitiu que aquela percepção de unidade lhe atingisse. A verdade revelada sob o céu que cegava. Segundos antes, o cansaço do corpo denunciava; é o fim, o fim. Agora sabia. É o começo! – quis gritar. O grito, interrompido na garganta, foi propagado pelo infinito. Era o começo, o começo. O silêncio já dizia.

domingo, 5 de julho de 2009

A nós que não somos

Eternidade que se afunda nas horas em que esperamos...
buscamos, como quem não quer encontrar, um resto de esperança seca
Toda vida desabitada na alma murcha
E há espera, como se não houvesse
Ignoramos sem saber, aquele sentido antigo do amor..
Permitimos ao descaso a indiferença, começamos pelo fim e findamos o resto de viver
Ainda há, escondida, camuflada no canto oco do sentido a consciência
Repugnamos sem nos preocupar com as conseqüências a razão
Abstraímos toda matéria, vivendo de ilusão
Esperamos então...
Como quem diz, grita suas palavras desgarradas ao vento..
Levamos embora toda esperança,
Carregamos conosco a felicidade utópica
A falta de sentido, razão obscura..
Continuo.
Antes que o mundo se vá e nos deixe pra trás
Carrego você que vem suave em meus braços. Acolho nossas tristezas e angustias, sem fazer disso um fardo
A busca pelo prazer, sabemos que ele não virá.
Mas preferimos a ilusão.
Nesse mundo fatasia, criamos nosso mundo brincadeira, realizamos o que seria a verdadeira vida
Nasa mãos a areia rala se esvaindo.
Ampulheta
Inertes, contemplamos.
Absorvendo apenas o que nos interessa...
Todo o resto
O que não somos.
O resto é tudo.

quinta-feira, 2 de julho de 2009

Espasmo

Silencio.
Os dias estão chegando.
Trarão também os sonhos.
É preciso fazer silencio agora.
Todo barulho é escuro.
Alguém entenderia?
Se houvesse mais que um dia.
Vieram com as horas.
Trazer o vácuo escuro do tempo.
A surdez do passado.
Em sintonia com o velho estrondo.
É preciso calar
os sonhos. Agora.
O futuro não existe.
Toda ordem corrompida.
Cada espaço um pedaço.
De mente bagunçada.
Quebrar
O velho ritmo.
Velho ritmo.
Novo é velho.
Ritmo cansado.
Cansa.
Sem tempo.
Tempo é espera.
Tempo e espera.
esperança
De espera. Desespero.
Espero.
Quebro.
O tempo-
Inexistência.