Enquanto assistiam ao filme, as imagens lhe traziam a sensação do fim, uma nostalgia ainda não sentida. As cores se compunham numa atmosfera romântica e inédita. O chocolate foi ficando amargo no fim, trazendo-lhe um presságio do inverno que se aproximava. Os pés frios, o contato quente excessivamente confortável... Tentou afastar com um suspiro a certeza.
Buscou os olhos dele que não vinham. Mudos, fixados na imagem da TV que evidentemente não lhe dizia coisa alguma.
Mais um suspiro longo que guardava a espera.
Na tela a imagem negra mostrava o primeiro de uma sucessão de fins. Mecanicamente, ele iniciou o ritual dos botões necessários. Ela observava suas mãos que comandavam o fim da luz negra da televisão, o início da música triste e conveniente, a escuridão- uma luz apagada e os botões da sua blusa que iam deslizando sobre as novas garras, eternamente frias.
Permitiu com um novo suspiro se entregar as carícias tão desejadas, saudosa num desespero secreto. O ultimo suspiro interrompeu as ações dele. “Resignação?”, perguntou num sussurro doce que disfarçava a verdade do momento. “Talvez...”. “Nunca aceitaria!” – gritaria se pudesse, mas as palavras foram consumidas pela excitação desesperada. Soube naquele momento, que ele arrancava-lhe os seios, o colo, todo o corpo desperto e ia ingerindo-o languidamente, deixando-lhe apenas os ossos ressecados e inúteis.
Uma gota salgada escorria do rosto contorcido, no gozo a dor de uma lança que lhe cortava as entranhas e estancava o sangramento ao mesmo tempo. Os segundos eternos do pós-coito, o brilho da brasa dos cigarros e um reflexo opaco dos olhos que buscava silenciosamente, não vinham, nunca mais os veria...
As palavras vieram sem vontade, um diálogo curto e banal e quase necessário para preencher aquela ausência que se intensificava e ia engolindo todo o quarto. Um bocejo ruidoso veio finalizar a conversa.
Findou o cigarro deixou-o cair da mão para o cinzeiro. Ainda sentada, vestiu e o abotoou todos botões da blusa quente, vestia-se, apesar de não ter frio. Com os olhos já úmidos, aproximou-se dele e com o indicador, interrompeu-lhe a palavra que surgia. em seguida, substituiu-o pelos lábios já molhados das lágrimas que vinham silenciosas. Um beijo eterno que não quis prolongar, afastou-se quando sentiu a língua macia adentrar sua boca. Acariciou com os dedos seus próprios lábios e se afastou. Sem palavras.
Enquanto ele dormia, instintivamente ela buscava os cheiros quase esquecidos que desprendiam do corpo nu, das narinas e da boca semi-aberta. A fragrância que sentiria diariamente através das lembranças.
Perdeu-se sem querer num sonho estranho, no qual acordava e se distanciava lentamente daquele corpo magnético com passos leves sem hesitar. Tropeçou no gato, que por sua vez miou baixo e com preguiça. Ao abrir a porta, seu corpo derreteu e foi escorrer varanda a fora, atingindo a calçada, o esfalfo e por fim a boca do esgoto, onde foi escoar pesadamente. Completamente dissolvida e misturada a água lamacenta, abriu os olhos e percebera que o sonho era estar desperta. A realidade do esgoto atingiu-lhe de súbito e sentiu que o tempo todo estivera adormecida numa ilusão de verão.
Buscou os olhos dele que não vinham. Mudos, fixados na imagem da TV que evidentemente não lhe dizia coisa alguma.
Mais um suspiro longo que guardava a espera.
Na tela a imagem negra mostrava o primeiro de uma sucessão de fins. Mecanicamente, ele iniciou o ritual dos botões necessários. Ela observava suas mãos que comandavam o fim da luz negra da televisão, o início da música triste e conveniente, a escuridão- uma luz apagada e os botões da sua blusa que iam deslizando sobre as novas garras, eternamente frias.
Permitiu com um novo suspiro se entregar as carícias tão desejadas, saudosa num desespero secreto. O ultimo suspiro interrompeu as ações dele. “Resignação?”, perguntou num sussurro doce que disfarçava a verdade do momento. “Talvez...”. “Nunca aceitaria!” – gritaria se pudesse, mas as palavras foram consumidas pela excitação desesperada. Soube naquele momento, que ele arrancava-lhe os seios, o colo, todo o corpo desperto e ia ingerindo-o languidamente, deixando-lhe apenas os ossos ressecados e inúteis.
Uma gota salgada escorria do rosto contorcido, no gozo a dor de uma lança que lhe cortava as entranhas e estancava o sangramento ao mesmo tempo. Os segundos eternos do pós-coito, o brilho da brasa dos cigarros e um reflexo opaco dos olhos que buscava silenciosamente, não vinham, nunca mais os veria...
As palavras vieram sem vontade, um diálogo curto e banal e quase necessário para preencher aquela ausência que se intensificava e ia engolindo todo o quarto. Um bocejo ruidoso veio finalizar a conversa.
Findou o cigarro deixou-o cair da mão para o cinzeiro. Ainda sentada, vestiu e o abotoou todos botões da blusa quente, vestia-se, apesar de não ter frio. Com os olhos já úmidos, aproximou-se dele e com o indicador, interrompeu-lhe a palavra que surgia. em seguida, substituiu-o pelos lábios já molhados das lágrimas que vinham silenciosas. Um beijo eterno que não quis prolongar, afastou-se quando sentiu a língua macia adentrar sua boca. Acariciou com os dedos seus próprios lábios e se afastou. Sem palavras.
Enquanto ele dormia, instintivamente ela buscava os cheiros quase esquecidos que desprendiam do corpo nu, das narinas e da boca semi-aberta. A fragrância que sentiria diariamente através das lembranças.
Perdeu-se sem querer num sonho estranho, no qual acordava e se distanciava lentamente daquele corpo magnético com passos leves sem hesitar. Tropeçou no gato, que por sua vez miou baixo e com preguiça. Ao abrir a porta, seu corpo derreteu e foi escorrer varanda a fora, atingindo a calçada, o esfalfo e por fim a boca do esgoto, onde foi escoar pesadamente. Completamente dissolvida e misturada a água lamacenta, abriu os olhos e percebera que o sonho era estar desperta. A realidade do esgoto atingiu-lhe de súbito e sentiu que o tempo todo estivera adormecida numa ilusão de verão.