sábado, 24 de outubro de 2009

Era

Havia despojado de umas palavras agudas como se os dias fossem pesados e os segundos tivessem alguma espera. Continuou um silencie eterno até os momentos de caos inevitável que se decompunham na mesa de xadrez com as peças postas. Silencio cansado corrompendo a espera de um estado hermético.
Criou dedos a mais. Saliências necessárias para a antiga sensação de matéria que retomava com espasmos gradativos, palavra perdida num vácuo permitido pelo tempo. Atingiu a esfera abstrata da mente com intenções esquecidas que dissiparam na entrada.
Sempre as horas medidas calculadas, interferindo no espaço limitado tentativa de infinito.

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Sem.

E agora João? Depois que o feijão acaba e a barriga geme. E agora é tanta quanta palavra. Tudo torto e sem jeito. O sapo não sabia se pulava ou ficava dentro do rio, o jacaré comeu o sapo. Ouviu uma palma lá no fundo, pensou ser aplauso. Tanta palavra torta descabida. Eu os amo, ninguém tem culpa, uma carta de despedida. Trinta e sete vezes tentadas e um espasmo como resposta. O sapo no aquário não pode pular. Começou com uns movimentos contidos, balançando as mãos e braços, depois a cabeça, aos poucos o corpo todo tremia já desabitado de alma ou consciência. Tanto céu preste mundo ingrato. Mas continuou andando viril como quem se acostuma com a fome. Um pedacinho de esperança despencada lá de cima junto com a chuvinha lenta. Tinha também um olho na testa? Maria continuava calada como fosse muda. Os bichos ficaram eufóricos, sem razão aparente quebraram as grades, os cientistas pesquisam. Todos têm moradia graças ao novo plano de governo. Mexe o bigode às vezes, mesmo quando ele não coça só pra fazer algo com as mãos. Mas continuou andando e ainda sentiu o cheiro das flores no caminho, quanta pretensão, pensou. Morava num castelo enorme, todos as cores de flores no jardim e uma fonte de água fresca e abundante onde se refrescava nos dias quentes. Abstratos sonhos que se quebram feito matéria. Morava na fonte do jardim o jacaré. Sentiu alívio quando soltou dos dedos as horas. Por que insistia João? Tanta espera e o suor frio a pingar-lhe do rosto sem pressa. Continuou esperando. Meio mole, morno. O vácuo rompido pelo grito sussurro do Agora. Cansados os meninos pararam para beber e não havia água. Faz silencio um pedacinho maior daquela espera. Mas continuou andando...

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

D'água

Pingo, pingo, pingo...
Deixo as gotas escorrerem languidas pelo queixo, pela boca, dos olhos, pingos de água sal, da janela pinga chuva fria, amarga, tão fria e calma.
Deixo ir escorrendo pelo asfalto tantas gotas que já são um rio. Lavando do asfalto toda poeira seca, sujos pedacinhos de humano.
Vai levando também meu corpo, se dissolvendo como pingos caindo e se espatifando sem se desfazer, só dissolvendo. Vai dissolvendo minha carne, derretendo meus ossos, desfazendo a matéria, deixando apenas a essência de água que se funde e se mistura aos pingos, ficando uma coisa só. Vai descendo rua abaixo feita enxurrada minha essência branquinha, transparente de água do céu.
E vai pingando, pingando minha essência escorrendo...
Pingo, pingo, pingo...