quinta-feira, 9 de junho de 2011

Cinza em Brasa


Estava chovendo, somente por isso aceitara a carona. Ele foi tão gentil ao oferecer, parecia inofensivo, mas ambos sabiam o motivo daquela oferta. Ela tinha o passado pulsando em seu sexo, tentava desvencilhar-se das lembranças, mas havia o cheiro dele, a voz, e depois de tanto tempo, era a mesma sensação. Fechou os olhos por um segundo.
- Vamos? – ele abriu a porta do carro ao mesmo tempo em que olhava em seus olhos, como costumava fazer, ela despertou da breve vertigem, sorriu e entrou no carro.
Permaneceram em silêncio por alguns segundos, ela confusa, sentindo uma excitação mesclada entre medo e desejo, a certeza da entrega, a felicidade, quanta felicidade! Soube naquele momento que por mais que mentisse pra si mesma, nunca o esqueceria. Soube também que ele sabia disso, ele tinha certeza disso.
- Como estão as coisas? Soube que se formou, que está de casamento marcado? – conseguiu quebrar o gelo, porem sua voz saiu trêmula e quase gaguejava.
- Sim... Caso-me esse mês. Ela não pode vir, tinha que corrigir umas provas... Não imaginava que te encontraria aqui. Surpresa agradável!
Cafajeste! Pensou tão alto que tapou a boca supondo que ele tivesse ouvido. Cafajeste, sacana!
- Disse alguma coisa? – ele conseguia sorrir e manter a voz uniforme e sedutora.
- Pensei alto. Sabe, estive pensando, pensei outro dia mesmo... Tudo que a gente viveu, parece que ficou muita coisa sem conversar e não tivemos tempo... – antes que ela terminasse a frase, sentiu a mão dele pousando na sua coxa e deslizando suavemente para sexo. Calou-se. Suspirou resignada. Ele riu sem tirar os olhos da direção. Ela o fitava, dos seus olhos saia uma chama quente de ódio e desejo.
- Por que você faz iss...- novamente, antes que concluísse a frase, sentiu a mão dele ainda mais quente por baixo da saia atingindo o sexo. Percebeu suas pernas se abrindo, percebeu o sexo molhado e os dedos que deslizavam facilmente para dentro.
- Você mora no mesmo lugar?
- Sim.
- Está sozinha? Podemos ir lá?
- Sim.
Delicadamente ele tirou a mão do seu colo, trocou a marcha para aumentar a velocidade e dirigiu calado e sério até a casa dela.
No trajeto, enquanto se recompunha da excitação, vislumbrou um breve filme do passado, de tanto tempo em que o esteve esperando, das noites em claro e posteriormente, das noites em que teve que se drogar para dormir. Mas lembrou-se também das noites em que passaram nos lugares mais inusitados fazendo amor. Lembrou-se que não havia flores na historia, nem jantares, nem cinema...
Fechou os olhos com força e permitiu que uma lágrima escapulisse, um soluço abafado, e novamente a porta do carro se abria, ele sorria.
- Vamos? – ele estendia a mão, e quando ela se levantou, sentiu-se forte novamente, a vontade a dor latejando em suas entranhas, em seus lábios. Sabia que não tinha escapatória. Tornara-se presa da sua própria lascívia.
Entraram na casa rapidamente, com destreza ela ligou o som, preparou a cama e, antes de iniciarem o sexo, ela o olhou por alguns segundos, com ternura, e pela primeira vez, percebeu que ele também hesitava.
- O que você está fazendo? – ela falava tão baixo e suavemente que sentiu o corpo dele esfriando.
- Você sabe... Você também está fazendo.
Ele se aproximou, beijou-lhe o rosto, ela oferece-lhe a boca, que ficaram coladas ainda um tempo até se transformar no beijo que ela tanto esperara. Ele também esperara. Queria acreditar, precisava acreditar, ele também a queria!
Esteve novamente mergulhada naquele corpo, novamente entregue aqueles carícias insubstituíveis, que durante tanto tempo procurou em outros homens. Gozou entre lágrimas, nostálgica, um gozo triste, quase desesperado...
Acordou sem se lembrar que havia dormido. Olhou a cama vazia. Não se lembrava se fora apenas um sonho. Mas sentiu o cheiro e seu corpo ainda estava quente. Já era dia. Ele já havia partido.