quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Uma Xícara de Chá- Cap. III

Uma chaga roxa no coração fictício. Uma tentativa de sentido que não poderia sentir. Segurou firme com as mãos uns segundos do ponteiro do relógio abstrato tictaqueando na mente. Retrocedeu alguma eternidade do tempo que já não. Compreensão súbita da verdade. De olhos imaginários, esferas ocas, uma pintura cubista. Olhos pintados no painel daquele campo extenso e repleto vazio.
Da chaga roxa, o líquido que escorria também roxo com brilho fluorescente ia gotejando pelos órgãos infectando e iluminado, pulmões respiração, bexiga e excrementos, saco escrotal e útero. Em pouco tempo o mundo que ficou de cabeça pra baixo criando noite, infringiu lei de gravidade e o líquido subiu pela garganta indo atingir o cérebro indefeso. A mente receptora cessou no momento toda palavra intrusa e aceitou a sensação úmida do novo.
Estancadas as tentativas de ação, mãos abertas despojando do que não lhe era.
Da cabeça suspensa por fios de consciencia, imagens abstratas desprendendo e desbotando no grande vácuo onde não havia matéria possibilitando firmamento.
Sentiu um cheiro de si que vinha dos poros transpirantes. O cheiro também foi se integrar na paisagem vazia que era o externo.
Cessada respiração naquele ambiente de coisas e pedaços, evacuou sem pressa ou sofrimento a continuação dos suspiros interrompidos. Integrou-se do roxo de todas as cores, tingindo as mãos que secavam em abanos a espera. Derramou por todo resto de tempo as gotas que se decompunham, derretendo languidamente pedaços de matéria.
Todo espaço absorvido, absorvida a verdade. Integrados universos, essência e existência. Das tentativas corrompidas, começos fragmentados, inconsciência. Liberdade permissão.

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